terça-feira, 29 de abril de 2008

A PRIMAVERA QUE VOS FALO( Imagine uma tardinha, um chopp gelado, uma solidão de bar)

Não vos falo de pássaros inquietos,
ou seixos ou flores,
sigo minha rota para além dos muros,
vou disperso sobre a relva.

Não vos falo do sol
que ao tocar, definitivamente,
a pele alva da manhã,
revelou a temperatura das fêmeas.

Vestido de lirismo e de alcova,
procuro uma razão
para subverter borboletas que pulsam
na arvore que transpira.

Não vos falo da primavera
didática dos livros,
nem a que visita
os que tardam seu vôo de nuvem.

Falo-vos da primavera
que não possuo
e escorre para a mansidão
solícita de uma vaga.

Falo-vos de segredos
fugidos das grutas,
falo-vos do hábito
sombrio dos becos.

Das bocas que têm febre
de seus amores
e sede metafísica
de poemas.

Falo-vos, em fim,
da primavera sadia,
recuada no calendário
que não existe mais.

2 comentários:

Cel Bentin disse...

Lind e atrelada. Aos anseios do que não se vê, mas que vive aqui e aí, por dentro... Legal por demais! Valeu, Delmo!

Cel Bentin disse...

pra reiterar: eu assisti um filme enquanto a tua poesia me lia! bela, Delmo!