
GOTAS
Líquidos evaporam-se, transformam-se
Desfazem-se no ar que sopra o invisível:
A chuva, o banho, a enchente,
O café, o desinfetante, a cachaça e outras gotas.
Por gotas que se espalham
Em batuques lentos, deitam-se ao chão,
Gotas pulando em potes,
Recipientes vazios, disponíveis.
Olhos lacrimejam águas de sentimento,
Ódio, rancor, medo, amor, saudade e outras gotas.
Mas um cisco também é responsável
Por muitas lágrimas irritadiças.
O orvalho é gota que a manhã fria preserva
E depois a libera ao sol,
A umidade que poderia ser
Neblina, chuvisco, respingos de espirro e outras gotas.
O sangue escapa do corte acidental,
Do tiro mortal, da facada furiosa,
Gotas carmim no pano branco...
Vermelhidão espesso e líquido e letal.
Oceanos que com suas marés
Dão aos mares, chute de pedra,
Pedra ressentida geme na encosta
E tudo são estrelas de brilho fugaz.
Líquidos se extrapolam numa profusão festiva,
Desatam-se de si mesmas, mutação gélida
Em rochas brancas que bebem os pólos
O gelo, o iceberg, a calota polar e outras gotas.
Garrafas trepidam as bandejas por sobre mãos úvidas,
As bocas vociferam etílicos sons desconexos
Os copos exibem cores: o ouro, o rubro, o verde frutado
E outras transparências e outras sedes e outras gotas.
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