sábado, 6 de setembro de 2008

Devaneio


Passeando alegremente
por uma passarela mundana
Viaduto em demasia suburbano,
Dito e feito como Chá.

Viaduto do Chá,
se chama.

Avistei pouco de longe,
um sujeito meio-frango,
Magro e feio feito pano.
Parou em minha frente e disse:

"Num disse?"
e visse.

"Ai, que rima chula",
Pensei cá com meus botões.
Pobre cidadão de rua.
Com seus dentes quebrados
e uma das pernas nua.

Cidade louca,
não me engana.

Desci o escadão,
Segurei no corrimão.
Dourado, sujo e melado.
Melecou minha mão.

Desgraça podre
que me segue.

Não só ela, o maloca também.
Desce correndo, enquanto olho pra trás.
Vejo a chinela torcendo,
caindo de boca em meu tênis Allstar.

"É um assalto"
faltou exclamar.

Não faltou vontade,
só o equilíbrio.
"Cachaça maldita", disse o nordestino.
Segui meu caminho, dessa vez sozinho.

Cidade mutante.
Muda o povo imigrante
e me ensina, cada vez mais,
sobre as pequenas regras da vida:

Não beba cachaça,
você pode cair da escada,
beijar um allstar,
e não assaltar ninguém.




Um comentário:

Cel Bentin disse...

dialetos confessos numa cidade em que cada um de nós é todo migrante e acolhido em cimento estrangeiro. Abs, hermano!