Passeando alegremente
por uma passarela mundana
Viaduto em demasia suburbano,
Dito e feito como Chá.
Viaduto do Chá,
se chama.
Avistei pouco de longe,
um sujeito meio-frango,
Magro e feio feito pano.
Parou em minha frente e disse:
"Num disse?"
e visse.
"Ai, que rima chula",
Pensei cá com meus botões.
Pobre cidadão de rua.
Com seus dentes quebrados
e uma das pernas nua.
Cidade louca,
não me engana.
Desci o escadão,
Segurei no corrimão.
Dourado, sujo e melado.
Melecou minha mão.
Desgraça podre
que me segue.
Não só ela, o maloca também.
Desce correndo, enquanto olho pra trás.
Vejo a chinela torcendo,
caindo de boca em meu tênis Allstar.
"É um assalto"
faltou exclamar.
Não faltou vontade,
só o equilíbrio.
"Cachaça maldita", disse o nordestino.
Segui meu caminho, dessa vez sozinho.
Cidade mutante.
Muda o povo imigrante
e me ensina, cada vez mais,
sobre as pequenas regras da vida:
Não beba cachaça,
você pode cair da escada,
beijar um allstar,
e não assaltar ninguém.
Um comentário:
dialetos confessos numa cidade em que cada um de nós é todo migrante e acolhido em cimento estrangeiro. Abs, hermano!
Postar um comentário